“Kim Basinger”* das licitações

*Kimila “Kim” Ann Basinger é uma atriz, modelo, cantora e produtora norte-americana. Após uma carreira de modelo de sucesso em Nova York, Basinger mudou-se para Los Angeles, onde começou sua carreira de atriz na televisão em 1976.

Uma opinião pessoal sobre os “cursos” que dizem “formar” analistas de licitações.

Os órgãos públicos e as empresas precisam indubitavelmente de profissionais multidisciplinares que os representem. Mas, quem muito mais precisa de profissionais experientes em licitações são as empresas, já que a razão básica da existência de uma empresa é fechar contratos e trazer resultados positivos, diferentemente de qualquer órgão público, na prática.

Não se quer simplesmente rasgar o dinheiro do caixa com uma equipe só para contar no happy hour aos seus amigos empresários que banca um caríssimo departamento de licitações…

A depender do órgão público, haverá a verba para nomear servidores para cada fase da licitação. Já o empresário que quer participar pelo menos de forma “decente” em uma licitação, nem sempre tem a mesma verba para formar sua equipe.

Quando abastadas, as empresas têm uma equipe enorme, fatiando as tarefas de cada licitação como se fosse uma orquestra sinfônica onde cada um se dedica a um único instrumento musical. Há profissionais, apesar de raros, que conseguem conduzir com maestria, todas as etapas de uma licitação, com seu profissionalismo, marcando o nome da empresa que representa em todos os envolvidos sejam eles seus concorrentes ou membros da comissão de licitação.

Digo isso para dar a visão das receitas de bolo fantasia de como ser um licitante de sucesso:

  • trechos de acórdãos do TCU, Nietzsche de bolso, publicados no LinkedIn
  • tem sempre uma nova lei ou uma velha lei relacionada, um curso…
  • diploma em direito e/ou administração
  • vídeos no Tube de um zé sem perfil ou postura ensinando a participar de licitações e diz que seus clientes já venderam milhões com seus cursos… Claro que não mostra nem o cliente sortudo e nem o contrato/empenho. Parece até piada do feijão que cura COVID.
  • cursinho intensivo com a Kim Besinger (dá um google) das licitações derramando seu charme em cada canal com publicidade patrocinada por seu escritório de consultoria
  • participação em seminário patrocinado por alguma empresa que vende o serviço de divulgação de editais ou algum software de licitações
  • robô de lances em licitações
  • seu amigo veterano em licitações
  • inúmeros cursinhos free online caça likes
  • notícias dos esquemas de corrupção e do que idôneo foi, em que seca suas vistas lendo diariamente
  • Suas habilidades em negociação e etc.

O máximo que alcançará com as ações anteriores é ser o amador que não perde uma carta convite. Aquele que dá dois lances na Bolsa Eletrônica de Compras e já se sente o especialista em licitações.

NÃO SERÁ uma ou todas essas ações que lhe tornarão um guru no assunto. Nem eu sou, perdendo as contas de quantas licitações participei, quantos editais, impugnações, recursos e contratos analisei e me manifestei ou declinei. Quantas estratégias para tirar de forma legal o concorrente do jogo…

Eu diria que boa parte disso tudo, a parte da teoria de como participar de licitações, a teoria vendida em latas coloridas, nem para quebrar galho serve. Vender para o setor público requer conhecimento em etapas e isso foi percebido por carniceiros que estão a explorar cada etapa cobrando caríssimo por suas gotas de sabedoria, tal qual algodão doce na chuva.

Outro dia um amigo empresário me confessou ter feito um curso de licitações para variar, caríssimo, com espaço reservado em um hotel de nome, com direito a quebra jejum, almoço, apostila colorida, brindes e citação do próprio nome recebendo a certificação nas redes sociais. Perguntei a ele o que é que ele tinha aprendido. Ele me disse lembrar apenas que o almoço tinha sido muito bom.

Mas, agora os zés e as kins basingers estão a formar “analistas em licitações” só com a teoria… mudaram o foco. Os empresários devem ter acordado e percebido que choveu e o algodão doce curso de licitações derreteu.

Já fui convidada para dar curso por meio do Skype (vídeo conferência) e falar sobre o assunto. O argumento era que bastavam uns quatro consultores enchendo linguiça para cobrarem uns seiscentos reais por pessoa, pois é.

Licitação é como um relógio daqueles antigos, em que todas as engrenagens devem estar bem encaixadas, pontuais com sua função, em perfeita harmonia. Às vezes o relógio é uma equipe, às vezes são profissionais multidisciplinares.  E sim, às vezes, estes profissionais são filósofos também. 😉

Às vezes quem publica trecho, faz um videozinho, bota uma frase de efeito, quer apenas chamar a atenção do leigo e ganhar um troco com o assunto. Não é de todo um estrago, não é mesmo?

Nenhuma de minhas palavras aqui é por cisma de alguma concorrência. É na verdade a conclusão de que ninguém é proibido de conhecer o assunto, pelo contrário, o mundo seria muito melhor se todos conhecessem.

O que tenho é repugnância por quem vende ao leigo a teoria como se tudo fosse, sem pôr a mão na massa, na massa inteira, de ponta a ponta. Afinal, se a sinfonia não estiver impecável de ponta a ponta, não haverá venda, não haverá contrato com o setor público. As licitações são assim.

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Trabalho na Lince Negócios Públicos, situada em São Paulo, com assessoria e representação nas vendas para o setor público (licitações) em diversos segmentos. Tenho mais de 20 anos de experiência em vendas para o setor público e privado.

Mira meu Blog pessoal: Mira Certeira

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